sábado, 5 de fevereiro de 2011

O Monge e o Executivo

O Monge e o Executivo: uma História sobre a Essência da Liderança
Autor: JAMES C. HUNTER
ISBN: 8575421026
Ano: 2004
Edição: 1a

Por quê?

Bom... eu tentei... admito que realmente tentei não começar com este livro. Por quê? Porque terminei anteontem um livro muito interessante e que, por tudo que está acontecendo em minha vida pessoal e principalmente profissional, era mais adequado ao momento. Todavia, "As Cinco Fases da Comunicação na Gestão de Mudanças", da Nancy Alberto Assad, trazem a tona, além das mudanças, a importância do líder nos processos de comunicação de uma empresa. E aí foi tudo por "água abaixo" (no bom sentido). Muitas coisas dos dois livros fechavam e as memórias vieram à tona.

Na mesma noite em que terminei o livro conversei com minha esposa e falei, vou começar pelo da Nancy, tem tudo a ver... mas não teve jeito... fica para próxima resenha... o fato é que "O Monge e o Executivo: uma História sobre a Essência da Liderança" fez comigo o que muitos leitores que conheci comentaram ter feito com eles, mudou minha forma de ver várias coisas.

É o tipo de livro que posso afirmar, com toda certeza, ter sido um divisor de águas em minha vida. Eu realmente era uma pessoa antes de ler o livro e agora sou outra. Reforço tanto isso pelo fato de saber que existem muitos livros que lemos, adoramos, indicamos, mas que não representam realmente uma mudança significativa em nossas vidas. Este, com certeza, não é um destes. 

De antemão peço que não me entendam mal quando digo que o livro mudou minha vida... em momento algum acreditei ter me tornado um líder daquele momento em diante... seria até prepotência de minha parte. Mas esta é uma das belezas deste livro. Ele serviu tanto para despertar a vontade de liderar, quanto para ligar o alerta de “opa, tem muito chão pela frente”. De todas as (poucas) certezas que tenho na vida, ele talvez tenha me ensinado a mais valiosa delas. Na vida, assim como na natureza, estamos sempre em transformação, e a única coisa constante é a mudança.

Evitarei entrar em muitos detalhes do livro pois o li há muito tempo atrás (no ano em que foi lançado) e não gostaria de cometer gafes em citação de passagens, mensagens dúbias ou coisas assim. Citarei os pontos que mais me marcaram. É um livro que realmente pretendo ler e reler muitas vezes ainda. Deveria inclusive fazer isto antes de realizar esta postagem, todavia, como citado no primeiro parágrafo, não podia começar por outro livro e agora estou meio sem tempo para realizar esta re-leitura.

Resenha

Como o autor diz no próprio título do livro, ele baseia-se numa história (fictícia) que traz como tema a essência da liderança. Hunter traz o personagem de Leonard Hoffman, um empresário de sucesso profissional, que resolve passar um tempo levando a vida como monge num monastério após descobrir que uma de suas referências profissionais, Simeão (pseudônimo usado no monastério), seguiu o mesmo caminho. Alguns problemas pessoais (com a família) também contribuíram para esta decisão. Mas o fato principal é que o autor nos faz viajar nesta jornada no intuito de demonstrar os valores, princípios e atitudes que um verdadeiro líder deve ter. Ele trás um conceito inovador de liderança, e destaca o perfil dos líderes da nova geração... o líder servidor.

A idéia do líder servidor começa a tomar forma com a quebra de paradigma da gestão tradicional. Na pirâmide gerencial tradicional (figura 1), o presidente encontra-se “no topo da cadeia produtiva”, gerenciando seus subalternos e assim por diante.


Figura 1

Este modelo funcionou durante anos de guerras e monarquias. Funcionou ao longo de boa parte da evolução da humanidade. Sua importância é tamanha que, sem ele, seria impossível chegarmos aonde chegamos em termos de desenvolvimento (referindo-me a todas as áreas de conhecimento). 


Todavia, este modelo apresente, olhando de imediato, dois problemas graves. A forma como a comunicação flui e a maneira com a qual ele é visto. Os empregados olhando sempre para cima e obedecendo a ordens, que usualmente lhes são impostas sem questionamentos, a fim de saciar a vontade de seus supervisores, e assim sucessivamente, até que o presidente da empresa tenha chego ao que considera o melhor para empresa.

O que dá início a proposta do autor, é a inversão desta pirâmide gerencial (figura 2), alterando, desta forma, a maneira como os líderes de uma empresa devem atuar. 


Figura 2



A mudança de maior impacto proposta pelo autor é a de que os líderes (em todos os níveis da cadeia), foquem seus esforços não apenas em retirar as barreiras que impedem o desenvolvimento do trabalho de seus funcionários, mas também em descobrir e saciar as necessidades dos mesmos para que possam evoluir e exercitar suas atividades da forma mais natural possível.

Neste ponto, ele trás um sentimento único (estranho para alguns) que um líder deve ter pelos profissionais com que trabalha, o amor. E por que “estranho para alguns”? Porque é hábito, na língua inglesa, utilizar a palavra amor para uma imensidão de coisas, sendo assim, torna-se bem comum ouvir expressões como, por exemplo, “I love icecream”, o que para alguns de nós soaria um tanto estranho (ou no mínimo exagerado). Afinal de contas, sendo literal, ninguém ama sorvete. Pode até gostar muito, mas jamais se apaixonaria ou casaria com um (hehe). E justamente aqui reside a intenção do autor. Você pode sim demonstrar que se importa com as pessoas com as quais trabalha, que entende e se preocupa com suas necessidades, que quer saber o que elas fizeram no seu final de semana, como está sua família, vida pessoal, etc. Mas é dever de um líder se preocupar com essas coisas? Se você espera liderar um grupo de pessoas motivadas, que façam a diferença, que busquem seus limites e, principalmente, que sejam fiéis a você e a sua empresa, então sim.

Ora, não é novidade para ninguém que uma pessoa motivada e autoconfiante rende mais. Por isso o líder deve se sacrificar para servir. Uma pessoa motivada, que confia em si mesma e em seu trabalho, busca se desenvolver, busca se aprimorar e evoluir. E quando essa pessoa vê que este bem-estar é fruto do trabalho de seu líder, ela passa a dar o algo a mais por ele. Um exemplo, nenhum profissional fica até mais tarde trabalhando por um gerente autoritário, que ele não goste, sem que seja por “amor” ou medo. E o problema do medo é justamente seu oposto. A coragem que esse profissional ganha na primeira oportunidade que tem de abandonar esse “líder”. Muitas vezes podemos perder profissionais chaves em projetos e/ou empresas que possuem líderes com este perfil. Ou deveria dizer gerentes?

Outro ponto abordado pelo autor são as diferenças entre poder e autoridade, gerenciar e liderar. Vamos às básicas:

Poder: É atribuído a alguém que nem sempre (ou raramente) possui competência técnica, caráter e liderança para exercer determinada função. Relacionamentos chefe-funcionário regidos exclusivamente pelo poder, tendem a desmoronar.

Autoridade: É adquirida pelo próprio esforço. Para muitos chega a ser considerado um dom, mas que pode, e deve, ser trabalhado e desenvolvido por aqueles que desejam se tornar verdadeiros líderes. A autoridade trás consigo o respeito e a admiração dos outros, cultivando, assim, bons relacionamentos.

Gerenciar: É a habilidade de gerir projetos, processos, empresas, finanças, enfim... coisas.

Liderar: É a habilidade de encorajar, motivar, desenvolver, orientar e servir as pessoas.

Alinhados estes conceitos, fica simples chegar à conclusão de que um líder, não precisa de poder para gerenciar ou liderar, o que não quer dizer que não os possa fazê-los. Todavia, tendo autoridade, não apenas estas tarefas lhes serão menos árduas como até mesmo prazerosas, além de certamente lhe conferirem uma maior chance de sucesso.

Mas isso tudo quer dizer então que tudo o que vimos sobre gestão até hoje está errado? Que são os funcionários quem devem reger uma empresa e não o presidente? Não, de maneira alguma. Mais dois conceitos são de extrema importância aqui para compreender a teoria como um todo. Clientes e comunicação.

De nada adiantaria fabricar uma bola se não existissem jogadores no mundo. Isso porque sem clientes, não existe "razão de ser" de uma empresa (seja ela de produtos ou serviços). Desta forma, o autor chama a atenção para outra diferença marcante entre as pirâmides, a figura do cliente no topo da pirâmide invertida. Isto porque é óbvio que os clientes sempre serão maiores do que as empresas, caso contrário, como já comentado, elas não existiriam. Por isso ele, o cliente, é quem deve sempre estar no topo da pirâmide, para que todos os demais níveis trabalhem sempre visando melhor servi-lo. Quer fazer seu cliente feliz? Peça aos seus funcionários que parem de olhar para você e passem a olhar para seus clientes. Pois eles, mais do que qualquer outro, PRECISAM ser servidos. 

Nesse ponto surge a comunicação. Sem um processo de comunicação eficiente e eficaz, torna-se impossível servir a todos na cadeia até chegar ao cliente. Abrindo aqui um parêntese para uma confissão, é justamente este um dos assuntos que mais me fascina (talvez por ser o que acredito preciso mais trabalhar). 

Para ser um bom comunicador, um bom líder servidor, é preciso saber ouvir. Caso contrário, todo o trabalho de cultivo da autoridade pode ser perdido. Imaginem um diálogo entre duas pessoas em que uma delas mal espera terminar o argumento da outra para fazer suas colocações. O autor traz à tona aqui a questão do respeito da opinião e da valorização do próximo. A importância da mensagem passada para o próximo nestes momentos. Se você está preocupado em formular respostas ao longo da argumentação do outro, acaba passando a mensagem, mesmo sem que esta seja sua intenção, de que a opinião do outro é menos importante do que a sua. Até mesmo que você se considera superior ao outro. 

Esses detalhes passam uma imagem muito negativa, e podem ser a diferença entre ganhar o respeito de uma pessoa e tornar-se apenas mais um conhecido em sua vida. Isso porque um profissional que trabalhe para um chefe que age assim, não se sente valorizado. Nossas ações devem refletir nossos sentimentos. Essa é a principal mensagem que o autor tenta passar neste ponto. É necessário que estejamos com nossos sentidos sempre atentos para identificar estes sinais e corrigir nossas ações para que elas reflitam efetivamente nossos sentimentos.

Comentei anteriormente sobre a questão das necessidades das pessoas. A dúvida que surge é: quem, melhor do que a própria pessoa, saberá o que ela necessita? A resposta é: o líder servidor. O autor do livro utiliza a metáfora da criação de um filho pelos seus pais. Plagiarei um pouco aqui o autor, por não lembrar bem dos detalhes (apesar da essência estar preservada). Ora, uma criança pode até imaginar o que necessita quando pede um sorvete no inverno com uma baita dor de garganta, mas os pais é que possuem a consciência de que aquilo não se trata de uma necessidade, mas sim de um desejo.

Observem aqui que existe um abismo de distância entre os dois conceitos. O que eu desejo e o que eu necessito, o que eu preciso, podem até mesmo coincidir, mas muitas vezes chegam a se chocar. Muitos são os exemplos na atualidade de pessoas que passam a vida buscando dinheiro, bens de consumos, riquezas materiais, etc., e nunca se tornam felizes. E isso acontece justamente porque temos uma dificuldade enorme de distinguir o que desejamos do que precisamos. 

O mundo consumista em que vivemos atualmente nos cega a tal ponto que deixamos de enxergar que os maiores prazeres da vida são de livre acesso, totalmente grátis. O amor, os amigos, a natureza, os sentidos, o sexo (esse eu lembro bem dele ter citado :P), o pôr do sol, o momento dos primeiros passos de um filho, a primeira vez que o ouvimos chamá-lo pelo nosso nome, enfim, uma infinidade de coisas que estão ao nosso alcance sem nem precisarmos sair de casa. Sem gastar uma moeda sequer.

A dica do autor é, quer entender as necessidades do próximo? Comece analisando as suas. Faça uma lista de todas as coisas que lhe trazem prazer, alegria (sejam estas coisas materiais ou não) e olhe o resultado da mesma. Certamente muitas delas serão comum a TODOS os seres humanos. Se existe dúvida sobre como descobrir as necessidades de um funcionário, comece por estas.

Questione todos os SEUS paradigmas. Outra lição a ser aprendida. Conforme já citado anteriormente, a única constante é a mudança. O mundo mudou e continuará SEMPRE mudando. E o que há de errado nisso? Nada, mas isto nos deixa naturalmente com medo. 

Mudanças nos obrigam a fazer as coisas diferentes do que estamos habituados. Forçam-nos a ter novas idéias para solucionar problemas que acreditávamos ter sido solucionados em definitivo. Sim, nem tudo na mudança é bom num primeiro momento, mas se ficarmos atentos, podemos sempre aprender com toda e qualquer mudança e isso, por si só, já é um bom. 

É preciso olhar mais para natureza, suas belezas, sua complexidade e permanência. Ela sempre esteve e sempre estará ali. E por quê? Porque na natureza nada permanece igual. Tudo está vivo e crescendo, ou morto e definhando. 

Excelente exemplo o da natureza citado pelo autor. Ela é a prova real e material da necessidade de mudança. Pois sem mudança, não há melhoria, e sem melhoria, há o definhamento, a morte. As empresas também seguem as mesmas regras. Nos tempos de hoje, com cada vez mais meios de comunicação fazendo com que as informações circulem cada vez mais e mais rapidamente, as empresas que não mudarem, sejam elas públicas, privadas, ONGs, ou de qualquer outra natureza, morrerão.

Considerações finais

É um livro realmente apaixonante. Se tivesse que escolher um livro para indicar a alguém que está ingressando no mercado ou deseja se aperfeiçoar como profissional, este é o livro.

Como falei no começo, certamente esqueci-me de citar várias passagens aqui. Tampouco era este meu objetivo. Caso contrário, iria re-ler o livro e postaria um resumo do mesmo, o que diminuiria consideravelmente minhas chances de sucesso em deixá-los curiosos.

Minha consideração final sobre o livro não poderia focar outro alvo se não o líder. Lendo o livro ou não, lembrem-se sempre de algumas lições. 

O verdadeiro líder não impõe regras e da ordens, ele serve, satisfaz necessidades (não vontades) e elimina barreiras.

O verdadeiro líder sabe que tudo que se planta se colhe, por isso ele é paciente, atencioso, humilde, respeitoso, caridoso (generoso), honesto, comprometido e sabe perdoar. 

Por fim, o verdadeiro líder está sempre se auto-questionando, pois “o homem sensato muda-se para o mundo, o insensato tenta mudar o mudo para si” - JAMES C. HUNTER

Espero que tenham gostado, que a resenha não tenha ficado tão cansativa e que estejam tão ansiosos quanto eu para a próxima. Mas, acima de tudo, lembrem-se: questionem, discutam, discordem... as postagens deste blog são abertas para comentários públicos, por isso, todas as colocações serão sempre bem-vindas e as questionamentos na medida do possível, respondidos.

Carlos Eduardo de Lima

3 comentários:

  1. Muito bom, encontrei essa resenha quando buscava por uma figura de pirâmide invertida. Fiquei instigada a ler e recomendar este livro!

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  2. Excelente... curiosamente este foi um livro marcante para mim também, iniciante que era em liderar equipes! Quando li o líder servidor, e que essa servidão é dar o que o colaborador necessita, foi uma libertação real para minha visão! Obrigada Cadu!!

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